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25/10/2016 - 13h52min

Sessão especial marca os 100 anos da Guerra do Contestado

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Considerado um conflito marcante para a história de Santa Catarina, situado entre 1912-1916, a Guerra do Contestado foi recordada, na noite desta segunda-feira (24), na Assembleia Legislativa. Convocada pela Mesa da Casa e aprovada por unanimidade por todos os parlamentares, a solenidade em a alusão ao centenário da guerra contou com a presença da sociedade civil, personalidades ligadas ao episódio e autoridades, entre elas o presidente do Legislativo, deputado Gelson Merisio (PSD). Ao abrir os trabalhos, o parlamentar destacou a importância da homenagem, que trouxe durante os pronunciamentos, depoimentos, fatos e lembranças do  episódio que marcou e mudou o cenário catarinense.
A partir de um vídeo, a história foi relatada e trazida aos dias atuais com inúmeros detalhes de um período que postergou por  46 longos meses. Num  contexto, onde uma área de aproximadamente 20 mil quilômetros quadrados tornou-se um banhando de sangue, o vídeo retrata a lembrança e permite manter viva a memória de uma das maiores revoltas camponesas do Brasil. Em terras catarinenses, a disputa percorreu uma vasta região, desde o Planalto abrangendo os municípios de Curitibanos, Lages, Canoinhas e Porto União, até o Meio Oeste passando por Caçador, Joaçaba, até a região de Irani.
À frente dos trabalhos, o deputado Padre Pedro Baldissera (PT) lembrou da assinatura do acordo de limites entre Paraná e Santa Catarina, que oficialmente acabou com a Guerra do Contestado. Na visão do parlamentar, a guerra colocou interesses dos poderosos contra a população pobre da região, o que resultou num genocídio contra caboclos e caboclas. Segundo ele, até hoje a região sofre com a exploração e a pobreza, onde o Estado tem uma dívida histórica que nunca foi quitada. "Os  caboclos e caboclas camponeses lutaram contra a injustiça de que foram vítimas quando o governo brasileiro doou as terras do entorno da nova linha férrea aos madeireiros e à Southern Brazil Lumber & Colonization Company. O que receberam foi morte e dor”, relembra.
Padre Pedro salientou ainda que a presença do Estado na região era mínima e que até então aquela população sofria com os mais diversos problemas. “Era uma população pobre, humilde, que tirava da terra o seu sustento e que, de uma hora para outra, teve sua vida atingida por um poder descomunal."
Ao prestigiar a solenidade, o deputado Antonio Aguiar (PMDB) falou sobre o episódio, lembrando que a bandeira do Contestado é vista como um símbolo regional de Santa Catarina. Autor da Lei nº 12.143, que cria a Semana do Contestado, Aguiar contextualizou a questão política dos limites de Santa Catarina e do Paraná, apenas um dos componentes de deflagração de conflitos, numa esfera político-administrativa, ressaltando a importância ainda maior do componente social.  “Aquela gente sofrida, então revoltada, começou a se organizar, inclusive com alguns fazendeiros que também tiveram suas terras expropriadas. E ganhou força um terceiro ingrediente para o conflito, que foi a questão religiosa.”
Representando os homenageados da noite, Nilson Cesar Fraga, geógrafo, pesquisador e professor da Universidade Estadual de Londrina (PR), revivenciou alguns momentos. Segundo ele, é fundamental qualquer tipo de atividade que rememore o Contestado, onde ocorre quatro anos de guerra civil. Destacou que há se romper uma invisibilidade mantida sobre o contestado tanto em âmbito de Santa Catarina, como do Paraná, onde a questão do Contestado é mais invisível ainda. "Se é invisível no Paraná, quase invisível em Santa Catarina, no Brasil é quase silenciado. Esse é um momento histórico, fundamental e importante que precisa romper as brumas que cobrem a Guerra do Contestado, cem anos após a formação territorial de Santa Catarina", comentou. De acordo com o homenageado, algumas guerras tiveram a sorte de cair nas graças da mídia e são aclamadas, como Canudos, Revolução Farropilha, República Juliana, entre outros. Porém, ele afirmou que a Guerra do Contestado tem sua grandeza tal como as outras.
  
Lançamento literário
Durante a solenidade foi realizado o lançamento do livro "Vicente Telles: O mensageiro do Contestado". De autoria do jornalista Moacir Pereira, a obra presta uma homenagem a personalidades pela valorosa participação na divulgação da história catarinense, ao longo dos cem anos da Guerra do Contestado. Na obra é possível encontrar fatos do maior conflito registrado no início do século passado, um marco significativo para o desenvolvimento e engrandecimento do estado de Santa Catarina.  "A obra é uma homenagem a Vicente Telles e sua trajetória, onde o personagem se dedica por longos anos a pesquisa em relação ao tema", salientou.
O livro resgata a iniciativa pioneira de Vicente Telles, um militar da reserva que, retornando a Irani, começou uma longa jornada para saber o que aconteceu em 1912 em sua cidade. A Guerra do Contestado era assunto proibido entre militares, autoridades e, em especial, entre os sofridos descendentes de caboclos e jagunços. De fato, a Guerra do Contestado ficou no subterrâneo entre 1916 e 1970.
Vicente Telles, exímio acordeonista desde a infância, dedicou os últimos 40 anos a pesquisar tudo o que trata do sangrendo episódio. Fixou-se no local onde se deu o “Combate do Irani”. Montou um memorial, o Museu do Contestado, ao lado do histórico cemitério, o Parque temático. Tudo às margens da BR-153, cruzamento com a BR-282. Escreveu músicas, montou encenações teatrais, incentivou os estudiosos e, principalmente, fez e faz palestras frequentes para crianças e jovens, sempre com seu acordeon, falando das lutas, dos valores e da vida pura dos cablochos expulsos de sua terras. Agora, com o filho Vicentinho, produz uma opereta do Contestado.
Vicente Telles incorporou o espírito caboclo e virou o herói vivo do Contestado.
A Guerra do Contestado
O Contestado foi um episódio sangrento que resultou na destruição da maioria das vilas e pequenas cidades espalhadas desde a área da Serra e o Planalto, chegando ao Meio-Oeste, até a região de Irani. Morreram entre 5 mil e 8 mil civis, além de um contingente estimado entre 800 e mil militares, de destacamentos federais e dos dois estados envolvidos no conflito. Foi uma guerra épica, que só não teve maior repercussão já nas primeiras décadas após o conflito porque não se contava em Santa Catarina com um Euclides da Cunha, que imortalizou o episódio de Canudos, destacando, como aconteceu aqui, a coragem e determinação do homem simples da região, o jagunço, em defender sua terra e sua família.
O deputado Neodi Sareta (PT) e o deputado federal Esperidião Amin (PP/SC) também participaram da solenidade.
Homenageados
- Pesquisador, Vicente Telles
- Deputado federal, Esperidião Amin
- Pesquisador, Antônio Pichetti
- Juiz de Direito aposentado, Aulo Sanford de Vasconcellos
- Cineasta, Sylvio Back
- Fábio Lhamby, representando Nilso Thomé (in memoriam)
- Jornalista, Paulo Ramos Derengoski
- Professor, Nilson Cesar Fraga
- Jornalista, Moacir Pereira
Tatiani Magalhães
AGÊNCIA AL

Patrícia Schneider de Amorim
Agência AL

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