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23/09/2020 - 13h31min

As mudanças climáticas influenciam na agricultura de SC?

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FOTO: Fernanda Hentz

Assessora técnica do mandato de Fabiano da Luz (PT) analisa os impactos climáticos na agricultura

A agricultura é uma atividade altamente dependente de fatores climáticos, por isso a mudança no clima pode afetar a produção agrícola de várias formas: mudança na severidade de eventos extremos, no número de graus-dia de crescimento devido as alterações na temperatura do ar, modificação na ocorrência e na severidade de pragas e doenças, dentre outros.
O aumento da temperatura e modificações no regime da chuva poderão provocar perdas significativas nas safras de grãos e alterar a geografia da produção agrícola brasileira, colocando em risco a segurança alimentar no país.

Problemas fitossanitários
Um dos efeitos da mudança do clima será a alteração do cenário de doenças e seu manejo que, certamente, causará impacto na produtividade agrícola.

As mudanças climáticas poderão ter efeitos diretos e indiretos tanto sobre o agente infeccioso quanto sobre as plantas hospedeiras e a interação de ambos. Dentre os efeitos diretos está a mudança na distribuição geográfica.

O zoneamento agroclimático da planta hospedeira será alterado, da mesma forma os patógenos e outros microrganismos relacionados com o processo de doença serão afetados. Assim, em determinadas regiões, novas doenças poderão surgir e outras perder a importância econômica se a planta hospedeira migrar para novas áreas.

A distribuição temporal também pode ser afetada. Os patógenos, especialmente os que infectam folhas, apresentam flutuações quanto à ocorrência e à severidade durante o ano, que são atribuídas as variações das condições meteorológicas.

O aumento da umidade, por exemplo, durante a estação de crescimento pode favorecer o aumento da produção de esporos; por outro lado, doenças como os oídios são favorecidas por condições de baixa umidade. Outro exemplo é a redução de dias com chuva no verão que pode diminuir a dispersão de diversos patógenos.

Na entrevista a seguir, conversamos com Fernanda Hentz, assessora no mandato do deputado Fabiano da Luz. Fernanda é Zootecnista, com Mestrado na área de Nutrição de Ruminantes e Doutorado em Zootecnia na área de Nutrição de Ruminantes. É pesquisadora da Epagri, Estação Experimental de Lages, cedida para a Assembleia Legislativa de Santa Catarina (Alesc). 

1- Como o clima pode afetar a produção vegetal? Os alimentos mudam de que maneira com a vulnerabilidade ao clima?

As atividades agrícolas são fortemente influenciadas pelo clima, seja através de condições climáticas positivas e determinantes no desencadeamento de processos fisiológicos para que possa ocorrer a produção, quanto nos aspectos negativos através dos quais o clima prejudica a produção.

O principais componentes do clima são precipitação pluviométrica (chuva), intensidade luminosa (radiação solar), temperatura e umidade do ar (UR), temperatura e umidade do solo e intensidade dos ventos.

Vários exemplos da ação do clima sobre a produção vegetal podem ser citados:

- Modificações no regime de chuvas comprometem o desenvolvimento e a produtividade das culturas;

- Baixas temperaturas são necessárias para que haja superação da dormência e produção de frutos em algumas culturas, enquanto que espécies de frutas tropicais tem seu crescimento paralisado em temperaturas abaixo de 10 oC;

- Dias quentes com alta incidência de luz são necessários para a obtenção de frutos de boa coloração e doces quando maduros, ao passo que aceleram o metabolismo em frutos maduros causando apodrecimento;

- Alterações na temperatura promovem a modificação no número de graus-dia de crescimento das plantas;

- Flores, folhas e frutos são danificados por ventos fortes e alta radiação solar;

- Baixa intensidade luminosidade ocasiona redução no florescimento;

- Alta umidade do solo favorece o surgimento de doenças em raízes e tubérculos;

- Modificações no clima alteram a ocorrência e severidade de doenças e pragas nas plantas e seu manejo;

- Há alteração no zoneamento agroclimático, inviabilizando a produção de determinadas culturas em algumas regiões por ausência de condições climáticas adequadas.

2- O clima influencia a produção animal?

Sim, os animais de produção são fortemente influenciados pelo clima, especialmente pela temperatura e umidade relativa do ar, pois estes fatores afetam diretamente a manutenção da sua temperatura corporal dentro das estreitas faixas normais. Quando os limites de temperatura ambiente e umidade para o conforto térmico são excedidos, tanto para mais quanto para menos, o organismo dos animais aciona mecanismos de regulação térmica para manter sua temperatura corporal normal, gastando energia. Por exemplo, vacas leiteiras em temperatura ambiente de 22 oC e UR de 100% já estão em stress por calor, reduzindo significativamente a produção e a qualidade do leite, em resposta à diminuição no consumo de alimento para tentar “parar” a produção de calor metabólico da digestão. Animais como suínos e frangos de corte que evoluíram em climas temperados não possuem glândulas sudoríparas, isto é, não suam, sendo extremamente sensíveis ao estresse por calor. Já pintinhos e leitões na primeira semana de vida necessitam temperatura ambiente constante ao nível do solo em torno de 32 oC para que não haja estresse por frio e morte dos animais. Galinhas poedeiras em condições naturais cessam a sua produção de ovos no outono, quando os dias se tornam mais curtos e com menor intensidade luminosa. Igualmente, a maioria das raças de ovinos somente apresenta atividade reprodutiva fértil no outono, quando a duração dos dias é mais curta e a intensidade luminosa é menor.

A ação indireta do clima na produção animal é manisfestada sobre a produção de alimentos para a alimentação dos animais. A germinação de sementes de pastagens anuais hibernais (de inverno ou temperadas) e estivais (de verão ou tropicais), bem como o seu desenvolvimento depende da temperatura e umidade do solo. Dias muitos quentes e baixa umidade do ar aceleram o metabolismo das plantas e a deposição de compostos da parede celular nas forragens, reduzindo seu valor nutricional aos animais. Estes são apenas alguns exemplos; o clima influencia e regula a possibilidade de sucesso em todas as atividades agrícolas e pecuárias, em maior ou menor grau.

3- Sobre as estações: qual a diferença de cada uma delas para a produção agrícola?

A região Sul do Brasil possui 4 estações bem definidas, com características climáticas predominantes em cada uma delas, e os produtores definem os cultivos agrícolas em função dessas condições climáticas durante as estações em cada região. Assim, por exemplo, o produtor sabe que a produtividade do milho safrinha será menor e os riscos associados maiores do que a do milho safra, porque o plantio e desenvolvimento do milho safrinha ocorre em uma estação que, embora ainda permita o cultivo, já não apresenta as mesmas condições favoráveis presentes para o milho safra.

Em virtude das adversidades climáticas frequentes no Brasil e da interferência negativa que estas causam na produção agrícola, foram desenvolvidos mapas de zoneamento agrícola de risco climático, que analisam as varáveis clima, solo e planta, calculando o risco de perda/probabilidade de sucesso das lavouras com base no histórico de eventos metereológicos adversos.

O zoneamento está atualmente disponível para 40 culturas e possibilita determinar a melhor época de plantio e semeadura das culturas para cada munícipio, na qual as fases críticas do desenvolvimento das plantas tenham menor probabilidade de coincidir com as adversidades climáticas (falta de chuva, granizo, geadas, temperaturas muito elevadas, chuva na colheita, vendavais) e ocorrência de algumas pragas e doenças predominantes nas estações, minimizando perdas agrícolas.

Os produtores que utilizam recursos de programas federais para custeio anual de safras (ex. Pronaf), podem contratar um seguro agrícola (ex. Proagro, Proagro Mais), que isenta parcial ou totalmente o produtor da necessidade de pagamento do referido custeio em caso de perda parcial ou total da safra por fenômenos naturais, pragas e doenças que atinjam as culturas. Entretanto, para o enquadramento neste seguro agrícola e até mesmo para a concessão do custeio por algumas financiadoras, é exigido do produtor a observância do zoneamento, ou seja, se o produtor implantar uma cultura em regiões de alto risco pelo zoneamento, não receberá indenização de sua safra ou anuência do custeio em caso de perdas.

4- Existe diferença no clima entre as regiões catarinenses?

Sim, o estado de SC apesar de possuir pequeno distanciamento latitudinal, especialmente no Oeste, apresenta variações espaciais significativas no clima entre as regiões. Segundo a classificação de Köppen, o território catarinense possui climas do tipo C (mesotérmico – temperaturas do mês mais frio abaixo de 18 oC e acima de -3 oC), do tipo f (sem estação seca definida pois os índices pluviométricos são superiores a 60 mm mensais) e devido a altitude há a subclassificação em a (de verão quente) e b (de verão fresco). O clima subtropical úmido Cfa é predominante no litoral e região Oeste e o clima oceânico Cfb nas demais regiões do estado, por serem zonas mais elevadas do planalto.



Jornalista: Maurício Santos
Informações: www.fabianodaluz.com.br
Contato: imprensa@fabianodaluz.com.br

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