Vinícola Dom José quer ser ponto de parada para os ciclistas
Há uns 15 anos, o produtor José Bottega recebeu a visita do irmão, que mora em Florianópolis. Os dois começaram a tomar um pet de vinho de dois litros e passaram a discutir o nome que dariam ao vinho produzido por José.
-- Eu quero colocar o nome de “Vinhos Bottega” - disse José
– Não. Vinhos Bottega é o meu - respondeu o irmão
Os dois começaram a discutir e não chegavam a um acordo. O pet já estava no final quando o irmão bateu o copo na mesa e afirmou:
– Eu já sei o nome do teu vinho!
– Mas que nome tu vai dar?
– Vinhos Don José!
– Tu é louco, cara!
– Vinhos Don José! E vamos fazer o rótulo tal dia! – disse o irmão, rindo.
Hoje, José relembra a história e afirma: “Foi uma coisa assim de estalo. Foi no estalo. Valeu, tá bom, vamos ver o que vai acontecer. E deu. Graças a Deus está muito bem.”
Foi assim, “de estalo”, que surgiu o nome de um dos vinhos mais conhecidos do Extremo Oeste catarinense – o Don José. Quinze anos depois daquela noite regada a vinho, risadas e ideias de nomes, José Bottega – o Don José da história acima – é um dos 17 integrantes do Núcleo de Vitivinicultores da Associação Comercial e Industrial de Pinhalzinho, o único de Modelo, município de pouco mais de 4 mil habitantes, a 650 quilômetros de Florianópolis. Apoiado pelo Sebrae e pela administração municipal, núcleo tem até um enólogo que dá assistência a todos eles.
A propriedade dos Bottega em Modelo produz basicamente suínos – em sistema de integração com uma grande agroindústria – e leite. O início da produção de vinho foi há 21 anos, impulsionada pelo sucesso das uvas, vendidas até hoje in natura diretamente a quem aparece por lá.
“Todos já conhecem e vêm aqui comprar. Tanto que a gente nem comercializa na cidade. A gente agora vai ampliar e passar a produzir uvas de mesa”, conta Marina Bottega, filha de José.
A vinícola Don José é uma das engajadas na rota de cicloturismo Velho Oeste. A expectativa é para um aumento no número de visitantes atraídos pela possibilidade de conhecer como se produz o vinho. “O turista vai ver a produção das videiras, as uvas, a produção de vinho que acontece na propriedade, e vai degustar esses produtos. É a chance de mostrar o produto que temos disponível, o trabalho que fazemos, as variedades de uvas”, explica Marina.
Memória afetiva
Para a produtora, os visitantes terão a chance de resgatar doces memórias. “Muitos vão lembrar do cheiro de infância que tiveram, lembrar da casa do nonno e da nonna”, afirma.
José Bottega, que começou a fazer vinho seguindo uma tradição de família – o pai já produzia a bebida para consumo próprio – também vê na atividade algo maior do que uma simples fonte de renda. “Que essas pessoas sejam bem-vindas, se sintam bem aqui, venham provar um bom vinho, degustar um bom vinho e ser amigos.”
Simples assim, como uma boa conversa regada por um bom vinho no fim de tarde no interior.