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Publicado em 08/07/2016

Recuperada de um atropelamento, jornalista conduzirá a chama

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Márcia Bina, com a cidade de Balneário Camboriú ao fundo; superação para realizar o sonho de ser uma atleta olímpica por alguns instantes

Um atropelamento causado por um motorista embriagado em novembro de 2014 interrompeu o ciclo de evolução da jornalista e atleta amadora Márcia Bina na corrida de rua. Ela teve de encarar um processo de recuperação doloroso para voltar a praticar o esporte que ama. E mais: precisou lidar com uma ação movida pelo condutor do veículo que a atropelou, caso que gerou grande indignação e ganhou repercussão nacional.

Segundo Márcia, essa história contribuiu para que fosse selecionada para participar do revezamento da tocha olímpica. Ela vai conduzir a chama “sagrada” na passagem pela cidade de Itajaí, município vizinho de Balneário Camboriú, onde a paulistana de 39 anos mora há cerca de seis.

VÍDEO: Assista à reportagem da TVAL sobre a trajetória de Márcia Bina

Márcia define a experiência que está prestes a vivenciar como a realização de um sonho. “Não consigo nem pensar porque já fico nervosa e emocionada. Pra mim, no dia 12 de julho, por 200 metros, vou ser uma atleta olímpica”, celebra. “Se tudo o que aconteceu comigo no último um ano e meio foi pra que tivesse sido escolhida para ter a honra de conduzir um símbolo como a tocha olímpica, acredito que todo o esforço valeu a pena”, confidencia, com voz embargada.

Esporte no sangue
O esporte está presente na vida de Márcia desde a infância. “Brinco que sou atleta desde criança. Educação física sempre foi a minha matéria preferida na escola. Já pratiquei de tudo que você possa imaginar! Se me chamassem para disputar um par ou ímpar, eu ia, e pra ganhar.”

A paixão pelas corridas de rua surgiu há cerca de quatro anos e meio. Ao longo de três anos, Márcia fez diversas provas, entre elas três meias maratonas (21 km). Na época do atropelamento que mudou o curso da sua história, estava inscrita para correr a edição de 2014 da São Silvestre, em São Paulo. Também treinava para fazer a sua primeira maratona (42 km) em 2015.

Atropelamento
No dia 30 de novembro de 2014, um domingo, por volta das 7 horas, Márcia estava a caminho da largada de uma prova curta, de 5 quilômetros, em Balneário Camboriú. Resolveu, então, voltar ao local onde tinha estacionado o carro para buscar uma camiseta para um amigo.

Já muito próxima ao veículo, no momento em que acessaria a porta do motorista, foi atingida por um carro em alta velocidade, desgovernado, que deu um “cavalo de pau”. Sem chance de reação, Márcia foi prensada contra o veículo estacionado - que deu perda total - e caiu no chão. “Não tem como entender o que aconteceu. Não morri porque não era a hora mesmo.” Antes de parar no meio da rua, o carro ainda bateu em outros dois veículos.

O motorista, um empresário de Florianópolis, se recusou a fazer o teste do bafômetro. “Ele estava embriagado. Isso foi atestado pela Polícia Militar. Além disso, tinha drogas dentro do carro, que também foram incluídas no laudo da PM.” De acordo com Márcia, ele foi preso em flagrante, mas solto no dia seguinte após o pagamento de fiança.

Ela foi atendida pelo Samu e levada ao Hospital Ruth Cardoso. Teve fraturas no quadril, na perna esquerda, em duas vértebras da coluna e estiramento dos ligamentos do joelho. “Não tive um corte, mas, por dentro, quebrou todo o lado esquerdo do meu corpo.”

Recuperação
Em decorrência das graves lesões sofridas, a atleta amadora ficou imobilizada numa cama por mais de 70 dias. “A recuperação física é muito difícil porque é preciso aguardar. Não há muito que fazer quando você tem uma série de fraturas.”

Depois dessa fase de espera, Márcia passou para a cadeira de rodas e, em seguida, para as muletas. Segundo ela, a maior dificuldade foi reaprender a andar. “É difícil dar um passo de novo. São várias etapas, uma a uma, devagar.” Nesse processo, contou com a ajuda de um médico, duas fisioterapeutas, um professor de educação física e um psicólogo.

A atleta amadora revela que não consegue imaginar a sua existência sem o esporte. “Se tivesse acontecido algo que me impossibilitasse de voltar a andar, buscaria algum tipo de esporte adaptado.”

Afastada das pistas, do trabalho e até da convivência dos amigos por meses, a recuperação foi uma prova dura para Márcia. “A fisioterapia é absolutamente desgastante e dolorida. Fazia sessões todos os dias. Até hoje preciso de cuidados fisioterápicos para poder continuar fazendo o que mais amo na vida.”

Suportar as dores físicas é, para ela, um desafio. No entanto, conviver com as aflições emocionais é ainda mais delicado. “Não vou negar que dói. Foi e é muito complicado. Tive muitas sequelas físicas, mas a psicológica foi maior ainda porque fui privada de fazer o que mais amo”, comenta. “A imprudência de uma pessoa fez com que esse sofrimento fosse enorme. A sensação de injustiça e de impotência é o que te mata um pouco.”

Justiça
Apesar da lentidão no andamento do processo judicial contra o motorista que a atropelou, Márcia acredita que a justiça será feita. “Até hoje não recebi nenhum centavo para custear a minha recuperação. Espero que ele seja considerado culpado e pague indenização pelos danos materiais que me causou e por danos morais que venho sofrendo ao longo deste processo”, desabafa.

A ação que o motorista moveu contra ela, solicitando o pagamento pelos danos causados ao carro dele e aos outros veículos envolvidos na ocorrência, foi arquivada a pedido do autor.

Além de atleta amadora, jornalista e empresária, Márcia tornou-se uma ativista que luta contra a impunidade no trânsito. Ela defende que a Justiça seja mais célere e rígida nos casos provocados por motoristas embriagados.

Recomeço
Na cabeça de Márcia, os treinamentos foram reiniciados a partir do momento em que ela foi liberada para fazer alongamento. “Se a fisioterapeuta me mandava esticar a perna três vezes, fazia seis. Isso, pra mim, já era um treino.”

Voltou a praticar corridas de curtas e médias distâncias. No ano passado, passados 13 meses do atropelamento, realizou o sonho de correr os 15 quilômetros da tradicional São Silvestre.

Com planos de migrar para o triatlo, ela treina para uma prova de duatlo (corrida e ciclismo), que será realizada em Florianópolis no próximo mês. Márcia também se prepara para correr a Volta Internacional da Pampulha, em Belo Horizonte (MG), em dezembro.

A atual rotina de treinamento vai de segunda a sábado, sendo alguns dias em dois períodos. “Não paro, só descanso um dia por semana. Hoje treino muito mais do que antes para poder fazer o que quero. Tenho que fazer muito mais musculação, academia, fisioterapia, para poder correr, pedalar e nadar.”

A dedicação a um esporte é, na opinião de Márcia, um ato de amor. Não importa se o atleta é amador ou profissional. “Brinco que o amador só não ganha, mas o esforço que tem que ser feito é enorme. Muitas pessoas não entendem e querem saber o porquê trabalhamos e ainda treinamos. Costumo responder que ganho saúde e alegria.”

Autoindicação
Após assistir a um anúncio na TV sobre a abertura de inscrições para condutor da tocha olímpica, Márcia resolveu se candidatar. “A propaganda dizia que qualquer pessoa que tivesse o espírito olímpico podia se inscrever. Como uma das minhas maiores frustrações é não ter sido uma atleta profissional, quando vi aquilo, pensei: ‘Poxa, é uma oportunidade de poder chegar o mais próximo possível de uma Olimpíada!’.”

Quando recebeu a ligação do comitê responsável pela organização do revezamento da tocha olímpica para comunicá-la que seria uma das condutoras, pensou que era trote. “Nem me lembrava mais, pois tinha feito a inscrição muito tempo atrás! Inclusive, foi num dia terrível, de fisioterapia, com dor. Na hora, cheguei a perguntar se era brincadeira, trote. Só acreditei mesmo quando chegou o e-mail de confirmação. Mas, ao desligar o telefone, chorei bastante.”

Ansiosa, Márcia faz contagem regressiva para o grande dia: 12 de julho. “Vou ser uma das poucas brasileiras aqui na nossa região a ter essa honra. Prefiro tentar não chorar e aproveitar cada segundo que tiver segurando o símbolo olímpico. Mas não fico pensando muito nisso porque é capaz de me dar um treco no dia!”, diz, sorrindo.

Familiares e amigos devem presenciar esse evento marcante na trajetória de Márcia. Para uma pessoa, terá um significado ainda mais especial. Trata-se daquele amigo para quem ela foi buscar uma camiseta no carro no dia do atropelamento. “Ele ia me visitar todos os dias em casa. Até hoje se sente mega culpado pelo que aconteceu comigo. Veja se tem cabimento uma coisa dessas!”

Como o amigo é fotógrafo amador, Márcia decidiu convidá-lo para registrar o momento. “Propus a ele que a gente termine esse ciclo lá. Disse: ‘Acabou, você não me deve nada e eu não te devo nada’. Ele tira fotos maravilhosas, e eu preciso de uma desse momento com a tocha.”

Espectadora
Márcia faz questão de ir ao Rio de Janeiro prestigiar os Jogos Olímpicos. Inclusive já tem ingresso garantido para a final masculina dos 100 metros rasos. “Foi outra grande alegria, muito parecida com a confirmação da condução da tocha.”

Todo brasileiro, na avaliação dela, deveria se sentir orgulhoso por receber o maior acontecimento esportivo do planeta. “Muitas pessoas acham que o Brasil não devia ser sede dos Jogos Olímpicos. Mas eles trazem para o nosso país o melhor das nações, especialmente no que se refere ao espírito olímpico. Isso é sensacional! A gente passa por um momento difícil, e o país precisa dessa alegria, dessa sensação de que vale a pena se esforçar e lutar.”

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